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    HISTÓRIA DO CAMPEONATO CORDEIRO PAULISTA

    Carcaças que concorrem no campeonato

    O final dos anos 80 e início dos anos 90 marca uma forte virada na ovinocultura paulista. A atividade que vinha sendo incentivada pela ASPACO Associação Paulista dos Criadores de Ovinos, recém-reativada em 1984, estava orientada para a produção de lã, tendo-se a carne como um subproduto. No entanto, os estoques abarrotados dos grandes produtores de lã e o desenvolvimento industrial das fibras sintéticas levaram a uma crise da ovinocultura mundial. Os olhos, então, se voltaram para a proteína animal que viria mudar o foco da ovinocultura paulista e mexer com os tradicionais sistemas laneiros do Rio Grande do Sul, Uruguai e demais países da América Latina. Embora a ASPACO, através de seu corpo técnico, já preconizasse o sistema misto de produção, ou seja, carne a partir de cruzamento industrial e lã das matrizes lanadas, foi na crise da lã que surgiu o I Concurso de Carcaças de Cordeiros. Idealizado pelo Dr. Edson Ramos de Siqueira, professor da FMVZ UNESP/Botucatu e Diretor Técnico da associação, o concurso veio incentivar muitos criadores que insistiam em rebanhos heterogêneos e não selecionados para aumentar a produtividade e qualidade das carcaças.

    O I Concurso de Carcaças de Cordeiros ocorreu durante a IV EXPOVELHA em dezembro de 1991, em São Manuel, reunindo trios de cordeiros nascidos no ano e que foram divididos em duas categorias: raças de carne e/ou cruzamentos e raças de lã e/ou mistas. Depois do primeiro, mais três concursos foram realizados ao longo de 10 anos, sendo que os dois últimos ocorreram no entreposto de carnes da ASPACO em São Manuel, operado pela recém-formada COOPEROVINOS – Cooperativa de Ovinocultores do Estado de São Paulo. Como na primeira edição, eram observados conformação, acabamento, uniformidade e terminação dos conjuntos, além dos rendimentos. Esta avaliação era feita por especialistas, como o próprio Prof. Edson e Prof. Roberto Roça da FCA – Faculdade de Ciências Agronômicas — UNESP/Botucatu.

    Vários parâmetros são utilizados na avaliação das carcaças

    Em 2002, o Núcleo de Criadores de Ovinos de Araçatuba –NCOA idealizou um campeonato inédito, bem mais competitivo e dinâmico. Lançou-se, então, o Campeonato Cordeiro Paulista que trouxe um torneio formado por duas etapas, uma de ganho de peso e uma de avaliação de carcaças. Os produtores concorrem com quatro cordeiros (o trio mais um reserva), machos, nascidos no ano e recém desmamados (aproximadamente de 45 a 70 dias), independente do grupo genético a que pertençam. A etapa de ganho de peso do primeiro concurso ocorreu na Fazenda Boizendinha, em Araçatuba, do criador Arnaldo dos Santos Vieira Filho, então Presidente do NCOA. Os cordeiros confinados foram arraçoados por 51 dias. Depois, foram expostos na EXPOCORTE, durante a Exposição Agropecuária de Araçatuba, antes de serem abatidos no FRIGOVINOS, abatedouro específico de ovinos montado na região.

    O sucesso do I Campeonato Cordeiro Paulista (CCP) serviu de estímulo para os futuros torneios que não falharam nenhum ano desde 2002. Em 2003, o campeonato ocorreu em Araçatuba, Bauru e, com o objetivo de oferecer uma carne de alta qualidade aos visitantes da EXPOVELHA, em Botucatu. Em 2004 e 2005 ocorreram em Araçatuba e Botucatu. Com o decorrer dos anos, o regulamento do CCP sofreu alterações conforme a necessidade. Em 2005, por exemplo, o Conselho Técnico da ASPACO sugeriu a avaliação objetiva das carcaças. Aprovada pela Diretoria, índices como o de compacidade da carcaça (ICC), de compacidade da perna (ICP) e pontuação de gordura passaram a ser fundamentais na classificação frigorífica dos trios, além do rendimento da carcaça.

    No VI CCP, em 2007, as carcaças que eram doadas pelos participantes para os núcleos regionais ou para a ASPACO após a classificação, passaram a ser remuneradas aos produtores, baseado no peso vivo dos cordeiros na entrada do confinamento. Em2008, além da remuneração, o concurso passou a distribuir prêmios em dinheiro aos proprietários dos conjuntos Grande Campeão, Reservado e Terceiro Melhor. Neste ano, o campeonato contou com os recursos cedidos pela Savana Carne de cordeiro.

    O Campeonato Cordeiro Paulista tem a participação efetiva de vários colaboradores. Os concursos em Botucatu contaram com o apoio logístico, através das instalações do Hospital Veterinário da FMVZ – UNESP/Botucatu, e profissional dos estudantes do Curso de Medicina Veterinária comandados pelo Prof. Sony Dimas Bicudo. Desde 2004, quando o CCP passou a ser considerado evento oficial no Estado, o NCOA e a ASPACO recebem o apoio da FMVA– Faculdade de Medicina Veterinária de Araçatuba – UNESP que cede suas instalações para o confinamento e prova de ganho de peso. A instituição, também, coloca a disposição seus profissionais, ou seja, os residentes do Curso de Medicina Veterinária e o GEO–ATA, Grupo de Estudos em Ovinocultura de Araçatuba, ambos sob a orientação do Prof. Luiz Cláudio Nogueira Mendes. A segunda etapa do campeonato vem ocorrendo no entreposto de carnes da ASPACO, em São Manuel, cujas mensurações são efetuadas pelos técnicos da ASPACO, comandados pela Zootecnista Melissa da Fonseca Oliveira.

    Fundamental participação vem, também, dos patrocinadores que apostam no marketing gerado pelo evento. Entre eles, estão empresas ou cooperativas que cedem as rações aplicadas ao confinamento dos cordeiros, sal mineral, equipamentos e os medicamentos normalmente utilizados.

    Além de atender os objetivos precípuos, ou seja, promover a confraternização entre os produtores de ovinos e a produção de carne ovina de alta qualidade, o CCP pode fornecer várias informações importantes ao meio científico. Em 2008, por exemplo, a ASPACO cedeu cortes das carcaças participantes do campeonato para um projeto de pesquisa desenvolvido no Departamento de Engenharia de Alimentos da FZEA – Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos – USP/ Pirassununga. Foram feitas análises físico-químicas da carne e avaliações sensoriais junto a consumidores durante a FEILEITE na capital paulista.

    Podemos concluir, também, que o CCP venha se firmar como modelo da etapa final da produção de cordeiros, divulgando o método pioneiro de recria e acabamento em confinamento pelo Estado de São Paulo gerando assim produtos altamente específicos, como carne com denominação de origem e qualidade.

    Márcio Armando Gomes de Oliveira

    Diretor Técnico da ASPACO

    Artigo retirado do livro: “AS MELHORES RECEITAS DE CORDEIRO PUBLICADAS NO O OVELHEIRO”